segunda-feira, 20 de novembro de 2023

HISTÓRIAS SOBRE A SACRAMENTA

Foto Oficial do Lançamento do Movimento Cultural I Love Sacramenta em 17 de Novembro de 2023 na Praça  São Sebastião 

FINALMENTE TEMOS UM MOVIMENTO CULTURAL ORGANIZADO NO BAIRRO


Sacramenta 

Antes da abertura do bairro, houve a chamada "rampa da Sacramenta", lugar tradicional, ligado possivelmente a alguma tradição da terra. Entretanto, não se pode afirmar se esta denominação estava traduzindo qualquer sentimento religioso (sacramentado), fosse de juramento, ou de consagração, como ensina Aurélio Buarque de Holanda Ferreira no seu Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa.


O bairro teve sua origem por volta dos anos 20 do século XX e seu nome provém da antiga rampa da Sacramenta, que se encontrava às margens da Baía do Guajará. Inicialmente pensado como um bairro residencial e construído sobre terrenos alagadiços, teve seu desenvolvimento urbano a partir de instalações de empresas como FACEPA, Gelar, Saveiro e Guaraná Simões, que produzia as suas próprias garrafas. Segundo relatos, sua primeira rua foi a Pedro Miranda, onde a linha de ônibus chegava até a Travessa Lomas Valentina e levava os trabalhadores ao centro. Durante a ditadura militar e principalmente na década de 1980 se constituíram fortes movimentos sociais urbanos que lutavam por melhores condições de vida da população da periferia. A Sacramenta era um dos bairros mais mobilizados à época.


“Na Sacramenta desde tempos longínquos, de antes mesmo do surgimento do bairro, um latifundiário chamado Clóvis Ferro Costa, advogado, rico, político de prestígio ao tempo da ditadura getulista, no âmbito do Norte, intitulava-se proprietário de uma extensa gleba, que se estendia da Senador Lemos e avançava pelo bairro da Pedreira (…) abrangiam as áreas por trás do Instituto Catarina Labouré, a partir hoje, mais ou menos, da Seccional Urbana, alcançando Antônio Everdosa, Pedro Miranda e, longitudinalmente, até, aproximadamente, a Lomas Valentinas (…) [no dia 12 de outubro de 1953, os irmãos Clóvis e Urbano Costa adquiriram a área pela importância de CR$ 600 mil]

Durante as décadas de 60 e 70, a comunidade foi desbravando e se alojando no local. Já no final de 70, quando quase toda a área estava habitada, começou a briga pela posse (…)”

[[1] Foto-mapa]

O trecho acima está no livro Sacramenta 90 anos de história, de João Guilherme de Araujo (2013), parte da área descrita está delimitada entre as linhas vermelhas na foto. Nota-se a grande dimensão do terreno. Lúcio Flávio Pinto dá notícia em seu Jornal Pessoal nº 615 (2ª Quinzena/Agosto 2016) de outra extensa área no bairro do Marco, aparentemente sem identificação com a anterior, mas com proximidade temporal.


Fonte


 Sacramenta: um bairro de lutas e de muita história.




Moro numa parte do bairro da Sacramenta que anos atrás era quase que completamente alagada. É o que chamamos em Belém de "baixadas": regiões da cidade que ficam abaixo do nível dos rios que a circundam. Minha casa, assim como a grande maioria, era de madeira, construída sobre o Canal da Pirajá, anteriormente um dos muitos igarapés que atravessavam a capital paraense. Quando chovia as águas do igarapé invadiam nosso banheiro e por pouco não tomavam conta do andar térreo. Durante o inverno a situação piorava. Tínhamos que ir para o trabalho com os sapatos nãos mãos, pisando na lama até o momento em que parávamos em alguma casa mais adiante para lavarmos os pés e seguirmos viagem.

Baixada de Belém - Bacia do Una

No dia que o meu filho Alexandre completava cinco anos caiu uma chuva torrencial que alagou completamente a Rua Nova, onde moramos até hoje. A altura da água chegava no joelho.  Tentei persuadir a Regina a mudar o local da festa para a casa de uma das minhas irmãs, mas ela não aceitou dizendo que a comemoração tinha que ser na nossa residência. Ela chorava copiosamente, pois temia que ninguém participasse da comemoração. Qual não foi a nossa surpresa quando os/as amigos(as) começaram a chegar, com suas calças e saias suspensas até o joelho, sapatos nas mãos. Foi um momento de grande alegria, daqueles inesquecíveis.

No local o Hotel Regente, na década de 60 foi a sede

da União Acadêmica Paraense (UAP).

Seu prédio e teatro foram destruídos sob

 o comando do coronel José Lopes de Oliveira

Durante a ditadura militar e principalmente na década de 1980 se constituíram fortes movimentos sociais urbanos que lutavam por melhores condições de vida da população da periferia. A Sacramenta era um dos bairros mais mobilizados à época. Haviam três grandes lutas se desenvolvendo no período:  1) Na Área da Aeronáutica (desde o início do Canal da Pirajá, na Av. Dr, Freitas, até área que se convencionou chamar Malvinas, às margens do Canal São Joaquim). Aliás, nesta última os nomes das ruas são de pessoas que estiveram à frente das lutas pela  permanência da população no local, ou das que apoiaram as ações do antigo Centro Comunitário Primeiro de Setembro: Claudio Bordalo, Carlos Augusto dos Santos Silva (o Guto), Raimundo Jorge Pires Bastos, Pe. João  Beuckenboon, Dr. João Marques e outros; 2) Na Área Promorar (Canal do São Joaquim) contra as tentativas do Exército de remanejar compulsoriamente centenas de famílias para o que é hoje o bairro Providência, próximo ao aeroporto, e; 3) Na área denominada Ferro Costa, por conta da família (latifundiários urbanos) que se dizia proprietária da região onde moravam cerca de 5.000 famílias.




Na Área ferro Costa travamos  intensas disputas com Jader Barbalho e seus aliados, que incluía naquela época a militância dos Partidos Comunista Brasileiro (PCB) e do Brasil (PC do B). Jader e seus assessores mais próximos estimularam gangues de arruaceiros a nos enfrentar nas ruas. Então, era muito comum os choques violentos, pois eles nos atacavam quando desenvolvíamos a mobilização da comunidade para lutar pela desapropriação da área e a titulação das posses. É impossível não lembrar de pessoas valorosas  que se empenharam de corpo e alma nessa luta: seu Laudemar, Carlito Aragão, Alberdan Batista, Marciana, Irene, os/as integrantes do Movimento Jovem da Passagem "E"/MOPAE (Carlinhos Matos, Nei, Neia, Souza, Rosa e outros) e da Juventude Unida na Caminhada pela Libertação do Povo/JUCALP (Domício, Cabinho, Nana, Maria, Rosa, Lucia, Lucica, Graça e outros), ambos grupos jovens da Paróquia de São Sebastião que, inspirados na Teologia da Libertação, se integravam às lutas sociais. Também é preciso lembrar da participação ativa da base social dos Centros Comunitários Irmãos Unidos e Boa Esperança.

Nas manifestações organizadas pela Comissão dos Bairros de Belém (CBB), como as grandes passeatas pelas ruas do centro, as organizações comunitárias da Sacramenta estavam entre os destaques. Chegávamos fazendo muito barulho: "Aguenta, aguenta, aguenta, chegou a Sacramenta!", bradávamos com todas as forças. Íamos em passeata do bairro até o centro para nos juntar aos outros movimentos sociais.

Na década de 1980 criamos a partir da antiga Área Ferro Costa o Movimento pela Urbanização Popular (MUP), que tinha como objetivo estratégico a urbanização da área influenciada pelo Canal da Pirajá. Moradores e moradoras como a Doninha, seu João Trindade, dona Lucinha, dona Maria, dona Rosa, Gilberto Saldanha, Regina Ferreira, seu Benedito, Jorge Cabeção, seu Aluísio e esposa, Pedro Peloso, Varela e outros(as) merecem todas as homenagens pelo que fizeram.

Não é possível negar a contribuição do MUP para a constituição posterior do Movimento em Defesa do Projeto de Macrodrenagem, que reunia centros comunitários de diferentes bairros da Bacia do Una, bem como do Movimento em Defesa dos Projetos de Saneamento, que incorporava entidades de Ananindeua que atuavam nas áreas onde estavam sendo (mal) executados o PROSEGE e o PROSANEAR, projetos de saneamento financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Banco Mundial (BIRD), respectivamente.

Na luta para melhorar as condições de vida na nossa área realizamos mutirões, assembleias, ocupação da Secretaria Municipal de Saneamento e muitas outras iniciativas. Lembro da vez em que Carlinhos Matos, Gilberto Saldanha, Domício Nunes e eu entramos em baixo do piso da retífica que se localizava bem no encontro dos canais da Pirajá e do Galo, bem ali no bairro do Acampamento, próximo à famosa ponte do Galo. Pois bem, tivemos que tomar "alguns" goles de cachaça pra enfrentar a empreitada. Era tanta sujeira, excrementos (merda, mesmo!), madeira, lata enfim, muito lixo, que impedia que as águas do Pirajá corressem livremente. O que era um grande problema quando se juntava maré alta com chuva torrencial. Tínhamos à época em torno de 20 anos. Lembranças da juventude...

E o que vejo a partir da minha casa.

Hoje, olho do terraço da minha casa e vejo prédios altíssimos "se aproximando" da área em que moro. Vejo a população de menor poder aquisitivo saindo do local, assim como as casas de madeira sendo substituídas pelas de alvenaria. Uma parte considerável da atual população nem deve saber o que centenas de moradores e de moradoras passaram para garantir que a área fosse urbanizada. Devo confessar, porém, que tenho orgulho do que eu e tantos(as) outros(as) fizemos. Sinto que uma parte de mim está em cada rua, nesse pedaço de chão que, infelizmente, o capital imobiliário que tomar para si. Tudo sob as bençãos de Dudu e sua trupe.


Texto de Guilherme Carvalho 


OUTROS RELATOS

Via Gilberto Saldanha Oliveira:

Lembro de muita coisa sumano......e de muita gente também.   O Nei e a Néia, o seu Valdemar, o Souza, o Azarias, a Regina da São Luís, o Beto podrão,(dy maio) o Agostinho Hijo (Artista), o Professor Augustão, seu Aires,  o Macarrão, o seu Carlito, a Dona Rosa,o seu Salomão,o Afonso , o seu Matias, a Dona Zilda, o Sérgio Galiza,  a Virginia, o Célio Bordalo, o Henrique, o Max Daniel, a Lindalva, o Edilson Moura, a Dadá, a Vera Dutra, o Paulo Dutra,  o Paulo Miranda e a namorada dele, a katia e o Ariosvaldo, o Paulo, a Adelino, o Padre Tiago (Ex Pároco de São Sebastião) , o Lucídio, o Riba, a irmå Ester do Catarina Labouré, o Licínio, o Davi Aragão, a Dilma, o Carlos Alves, o Carlos Nobre, o Carlinhos, o José Arteiro, o Getúlio, a Selma e o Joao Batista, o seu Vavá... As novenas e a Festividade de São Sebastião, as Confraternizações de Natal da Pastoral da Juventude da Igreja e por ai vai, e não esqueça dos Festivais da Canção do Salesiano, do zero do Valter Freitas, do grupo Hera da Terra...,Lembro dos mutirões da Raimunda Monteiro, do Airton Faleiros,  da Graça Lima e do Valdir e do Avelino Ganzer ,e tem muito mais coisas, causos, e histórias...

O saudoso Carapanã ... O júnior,  a Dona Maria do Carmo, a Dona Catarina, o seu Laércio da Passagem Bambu, a Leia e o Carlinhos ,a Ruth ,o Manoel Siqueira, a Rosa, a Maria, a Graça,  o Jonas e o Batelão, o aluá da festa e tem mais coisas...


Via Professor  Augustão:


"Aguenta, aguenta, aguenta, lá vai e/ou chegou a Sacramenta!"

Haviam também outros atores e atrizes que protagonizaram estes momentos e que não foram citados ainda e nem por isso são menos relevantes...Esse povo foi também fundamental nessas lutas...À eles, no qual me incluo junto com meus irmãos, que participamos de muitas caminhadas nessa época, lembro especialmente uma que saiu da Igreja até a Prefeitura de Belém e voltamos também caminhando e cantando e gritando a famosa frase: "Aguenta, aguenta, aguenta, lá vai e/ou chegou a Sacramenta!" , sem falar no saudoso Grupo de Jovens JUPASSE  (Juventude Unida da Paróquia de São Sebastião), que participávamos na Igreja, e tantos outros grupos. Cito:

JUCAJE  Juventude Unida na Caminhada com Jesus?

MOJUPAM Movimento de Jovens da Passagem Mirandinha

JUPS  Juventude Unida da Passagem Primeiro de Setembro

JUCALP Juventude Unida na Caminhada de Libertação  do Povo

Gilberto Saldanha de Oliveira Sua capacidade memorial e acima de tudo sua presença e valorização das lutas com essas pessoas foram relevantes para que a Sacramenta se tornasse esse Bairro das Lutas Populares. Os que hoje moram no bairro e que não conhecem essa trajetória precisam saber disso e ter o devido respeito à História do bairro, que hoje é urbanizado mas não sabem o quanto foi árdua essa luta. Outras lutas ainda precisam ser resgatadas e você pode colaborar nisso...OBRIGADO POR ESTAR AJUDANDO!


CLIQUE AQUI E LEIA ESSE ARTIGO DE O LIBERAL QUE AJUDA A CONHECER MELHOR A HISTÓRIA DO BAIRRO

Sacramenta: história de luta pela moradia

Canais São Joaquim, Galo e Pirajá foram o começo do bairro. Morador se dedica ao registro da história da Sacramenta e relata que, inicialmente, foi chamado de bairro da Macaxeira.




CLIQUE AQUI E LEIA TAMBÉM SOBRE O HISTÓRICO DA ÁREA DAS MALVINAS 




Essa História do bairro continua...E ainda está em Construção!

Que tal contar a sua ok...Nós incluiremos aqui nesse texto...

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